Veneza, fundada há mais de 1.600 anos, permanece de pé graças a uma impressionante técnica de engenharia baseada em madeira. A cidade foi construída sobre milhões de estacas de diferentes tipos de árvores, fincadas no solo de forma invertida para sustentar os edifícios. Essa técnica de fundação, que utiliza a pressão da água e do solo para manter a estabilidade das estruturas, tem se mostrado mais duradoura do que o concreto e o aço usados em construções modernas.

O trabalho dos “battipali”, operários que cravavam as estacas manualmente, era essencial para a construção da cidade. Utilizavam cânticos para manter o ritmo do trabalho, e sua profissão era tão valorizada que até expressões populares em Veneza fazem referência a eles. As estacas eram dispostas em um padrão espiralado, com nove por metro quadrado, e cobertas por estruturas transversais de madeira, sobre as quais se assentavam os edifícios. Seu uso racional levou Veneza a desenvolver técnicas de preservação florestal no século XII.
Diferente de cidades como Amsterdã, onde as fundações chegam até a rocha, as de Veneza se sustentam pelo atrito entre a madeira e o solo, criando um sistema estável. Esse método já era mencionado por engenheiros romanos e foi usado em diversas partes do mundo, como na China e pelo povo asteca. No entanto, a destruição das fundações astecas pelos espanhóis gerou problemas estruturais em construções posteriores na Cidade do México.
Embora as fundações de Veneza tenha resistido por séculos, estudos recentes mostram que as estacas estão sendo degradadas por bactérias anaeróbicas, ainda que mais lentamente do que se estivessem expostas ao oxigênio. A interação entre madeira, água e solo mantém a estrutura estável, mas mudanças ambientais podem comprometer essa resistência no futuro. Pesquisadores alertam para a necessidade de monitoramento contínuo para garantir a preservação da cidade.