Uma análise abrangente de 51 estudos envolvendo quase 30 milhões de pessoas revelou uma associação significativa entre poluição do ar e risco aumentado de demência. Publicado na revista The Lancet Planetary Health, o estudo reuniu dados de diversas regiões, principalmente América do Norte, Europa, Ásia e Austrália, e demonstrou que partículas finas (PM2.5), dióxido de nitrogênio (NO₂) e fuligem estão diretamente ligados ao aumento da incidência da doença.

Segundo os pesquisadores da Universidade de Cambridge, a exposição a cada 10 microgramas por metro cúbico de PM2.5 aumenta o risco relativo de demência em 17%. No caso do NO₂, esse aumento é de 3%, enquanto para a fuligem, a cada 1 micrograma por metro cúbico, o risco cresce 13%. Essas médias se aproximam das concentrações detectadas em grandes centros urbanos como Londres, o que reforça a relevância do tema para políticas públicas urbanas e ambientais.
Os mecanismos biológicos propostos para essa correlação envolvem estresse oxidativo e inflamação cerebral, processos já reconhecidos na ciência como fatores determinantes para o desenvolvimento da demência. Poluentes atmosféricos podem chegar ao cérebro diretamente ou provocar reações no sistema respiratório e circulatório que impactam negativamente o sistema nervoso central.

A maioria dos dados disponíveis refere-se a populações brancas em países ricos, ignorando comunidades marginalizadas e países de baixa e média renda, onde a exposição à poluição costuma ser maior. Isso pode ocultar impactos ainda mais severos nesses grupos. Os pesquisadores pedem urgência na ampliação dos estudos para incluir uma representação mais justa e global da população afetada.
Os cientistas afirmam que a prevenção da demência exige uma abordagem interdisciplinar. Políticas de planejamento urbano, transporte e regulamentação ambiental devem ser integradas às estratégias de saúde pública.